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O Demônio Loiro

  • Foto do escritor: Samuel da Rosa Rodrigues
    Samuel da Rosa Rodrigues
  • 1 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

Já era uma da madrugada quando Ana levantou da mesa do bar em um salto e avisou a mesa toda de uma vez só quando os olhares se viraram para ela:

— Vou… ao banheiro.

O anúncio saiu com muito mais força do que o necessário, mas o excesso de garrafas em cima da mesa fazia aquela vontade súbita de mijar fazer sentido. As pessoas na mesa continuaram a conversar, olhar o celular, beber e fumar, muitas vezes fazendo tudo ao mesmo tempo, e ela levantou buscando o banheiro mais próximo.

A vontade de mijar existia, mas o principal motivo era dar uma pausa para o corpo em relação àquilo que rolava debaixo da mesa. Desde que aquele demônio loiro havia sentado ao lado dela, uma verdadeira conversa de joelhos se tocando, canelas conversando e dedos brigando acontecia escondida, revelando-se apenas para quem fosse esperto o bastante para ver os olhares perdidos entre Ana e ela.

Seu nome era Camila. Os amigos a chamavam de Mila. As namoradas a chamavam de Cacá. E Ana simplesmente a chamava de demônio loiro toda vez que ela voltava à sua mente.

Sentiu a calcinha umedecer quando a viu chegar com os amigos ao bar. Lembrou-se de uma balada em que tinham se encontrado, em uma quarta ou quinta-feira que já estava sem sutiã em casa sentada no sofá. Assistia à novela e olhava o celular quando o convite chegou. Resolveu ir tanto sem sutiã quanto sem expectativa, e ao chegar lá percebeu que tinha acertado nas duas escolhas. Os arranhões que o corpo ganhou naquela noite já tinham ido embora, mas a lembrança do que aquela mulher podia fazer com ela tinha marcado mais forte do que qualquer unha. Quando viu que ela fez questão de sentar ao seu lado, prometeu para si mesma que não ia rolar nada hoje. Mas estava sem sutiã de novo e adorava uma coincidência.

Finalmente chegou ao banheiro, na caminhada mais demorada que suas pernas já haviam dado. A pia, já antiga e sofrida por causa do mofo na parede, pingava gotas solitárias que insistiam em cair por mais que a torneira fosse apertada: sentiu certa empatia quando percebeu que ela também estava falhando na missão de não ficar molhada.

Lavou o rosto e ensaiou prender o cabelo para suportar o calor quando viu uma gota de suor descendo do seu pescoço em direção ao seu seio. Passou a mão por dentro da regata para impedir a gota de chegar ao seu destino e encostou no seu mamilo excitado. O simples toque da sua mão fez o seu corpo inteiro se arrepiar.

Lá fora, os garçons passavam perto do banheiro com anéis de cebola, pratos de fritas e copos com limão e gelo. Lá dentro, passou os dedos por cima da calcinha e admitiu que não ia conseguir resistir. Apoiou-se na pia com a mão esquerda enquanto a mão direita fez o trabalho do demônio loiro.

Um dedo.

Dois dedos.

Três dedos.

Mordeu os lábios para não gemer e torceu para ninguém bater na porta.

Seus dedos contraiam-se dentro do All-Star apertado enquanto ela pensava quantos minutos haviam se passado desde que estava ali. De repente o tempo parou de fazer sentido, e, na sua cabeça, estavam as duas naquela balada novamente, naquele dia que ela não devia ter saído de casa, ainda mais sem sutiã, e então estavam as duas de novo na mesa do bar, as pernas roçando nervosas debaixo da mesa e o cheiro do cigarro e da cerveja se misturando ao perfume dela, e então estavam as duas na sua cama, no seu quarto, naquela noite, as roupas no chão e os gatos miando do lado de fora do quarto. Mas isso nunca aconteceu! Será que a masturbação estava lhe dando o poder de prever o futuro?

O pensamento distraiu Ana e a fez gemer. O cheiro das batatas fritas voltou junto com o barulho do bar e duas batidas secas na porta.

BAM! BAM!

Tirou os dedos molhados de dentro da calcinha e respondeu com a voz trêmula.

— Já tô saindo, desculpa!

A voz do outro lado riu.

— Ana, é a Cacá, tá tudo bem contigo?

Cacá, o apelido com o qual as namoradas a chamavam. Não Camila. Não Mila. Cacá.

— Oi, Cacá. Tá, tá tudo ótimo, já tô liberando.

Jogou mais uma água no rosto para acordar e prendeu o cabelo. 

— Ah, beleza — Cacá respondeu do lado de fora. — Tô querendo mijar.

Congelou. O demônio loiro queria usar o banheiro junto com ela. Sabia que era isso. Conhecia esse golpe. Por favor, já tinha usado ela mesma esse golpe antes. Mas ia ter autocontrole. Seus gatos não iam dormir traumatizados essa noite.

Ajeitou a postura, alongou o pescoço e abriu a porta. Parada no hall de entrada do banheiro, o demônio loiro a esperava sozinha.

Cacá se aproximou, pegou a mão direita de Ana e colocou na boca os dedos que ela estava usando. A língua áspera tocou nos seus dedos molhados e de repente Ana não sabia mais que se chamava Ana.

— Agora você usa eles em mim.

Quando percebeu, seu corpo estava sendo jogado de volta para dentro do banheiro e ela estava apoiada mais uma vez contra a pia, seus dedos enfiados na calcinha do demônio loiro enquanto a boca dela passeava por seus lábios e seus seios à mostra.

Quando se deu conta de que sua blusa já estava na cintura, percebeu que as duas tinham ido longe demais e teve que interromper.

— Para, para, para, para, para!

Cacá olhou para ela, branca.

— Que que foi, meu?

Ana tomou um ar e respirou fundo, tirando a blusa de vez por cima da cabeça e conferindo se a porta realmente estava trancada.

— A pia tá frouxa. Vai dar merda. Vou me apoiar no vaso.

Quando apoiou as duas mãos na borda do vaso e empinou o bumbum, decidiu que as duas melhores coisas da vida eram uma mão puxando seu cabelo com força enquanto outra a deixava molhada.

Seu último pensamento foi torcer para lembrar de dar comida aos gatos assim que chegassem, para eles não arranharem demais a porta durante a noite.

A masturbação realmente dava poderes incríveis.


Foto de mulher loira com top verde em frente a uma parede amarela. Ela usa óculos de sol verdes.

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