O GRANDE H - Capítulo 1: Quinta-feira
- Samuel da Rosa Rodrigues
- 31 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Quinta-feira, final de expediente. Aquele ponto da semana em que você está feliz porque os dias úteis estão acabando ou triste porque já sabe que o seu final de semana será de tarefas indesejadas. Seja qual for o destino que o espera, a quinta-feira já começa a desenhá-lo.
Tiago e Jonas pensavam nisso enquanto saiam da empresa em direção ao vestiário para deixar os jalecos sujos e trocar de roupa. Suas opções não eram muitas, mas já estavam bem planejadas.
— Hoje futebol, amanhã cerveja e sábado pagodinho — Jonas enumerou as atividades — domingo a gente descansa e você pode visitar a sua mãe. Fechou?
— Eu não sei como você arranja tanta energia pra fazer tudo isso, sinceramente.
— É simples — Jonas riu — eu não gasto energia reclamando!
— Ahhh! — Tiago simulou uma facada no coração e se atirou para trás, batendo nos armários do vestiário e assustando uma colega que passava — opa, desculpa — ele se virou para Jonas e continuou — eu queria poder concordar e dizer que você está certo, mas estou morto. Morto por conselho.
— Conselho doloso, com a intenção de matar — Jonas fechou o cadeado do seu armário — pensa no assunto e me avisa. Eu vou pra casa agora e me libero lá pelas 19h e…
Um burburinho começou no vestiário, com todos conversando ao mesmo tempo, tirando os celulares do bolso e indo para fora olhar algo no céu. Tiago e Jonas foram juntos no fluxo de pessoas antes de serem simplesmente arrastados por elas.
A porta do pavilhão do vestiário dava para o pátio da empresa que no final da tarde servia de moldura para o pôr do sol. Naquele momento, porém, o sol estava parcialmente encoberto por algo que flutuava no céu.
— É um avião?
— Parece um balão.
— Certo que é alguma marca.
— Mas que merda é essa? — Jonas colocou a mão no ombro de Tiago — parece uma…
— …uma letra H, gigantesca — Tiago desenhou a forma no céu com os dedos — tive a mesma impressão.
Outros funcionários chegaram à mesma linha de raciocínio. O corpo estranho que flutuava nos céus era do tamanho de um prédio comercial, daqueles que ficam no centro da cidade, e parecia duas torres longas na vertical, unidas por um túnel no meio delas. Sua forma final era exatamente de uma letra H.
— Tiago, cara, será que… não pode ser.
— Que foi?
— Será que esse… é o H que você esperou sua vida toda? Depois de 30 anos falando "Tiago sem H", um H gigante veio dos céus só pra você?
— Jonas, vai te catar.
— Eu vou, mas vou mudar o seu nome para Tiago com H nos meus contatos antes — ele já estava com o celular na mão — pronto, vou até mandar uma foto para você.
Jonas levantou o celular e fez uma foto do amigo olhando confuso para o céu. A mensagem logo chegou no aparelho de Tiago. Na legenda "mais um cliente satisfeito".
— Eu vou indo, tenho uns corres pra fazer antes de pegar a chave da quadra às 18h45. Te espero, hein?
— Peraí! — Tiago segurou o amigo antes dele sair — Você não tá preocupado com isso?
O grande H no céu permanecia imóvel, solene e silencioso, sem dar muitas explicações.
— Tiago, isso é uma coisa muito estranha que eu não vou investir minha energia no momento porque não tem nada que eu possa fazer. Simples. Agora — ele levantou o indicador para pontuar a questão — se depois do H ele virar um I e depois um J, aí você me chama. 19h, lá na quadra, hein? — ele foi em direção ao estacionamento — não vai me deixar na mão!
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