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Deixar o Papai Noel pra trás

  • Foto do escritor: Samuel da Rosa Rodrigues
    Samuel da Rosa Rodrigues
  • 26 de mar. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de abr. de 2024

Davi e Mateus moravam juntos há quase um ano, mas ainda viviam com emoção todas as suas “primeiras vezes”. Com o Natal não foi diferente. Convidar as famílias para a ceia na casa dos dois era um gesto de intimidade que representava muito para o casal de meninos. E o espírito natalino se manteve na casa por muito tempo. Até tempo demais.

— Amor, já guardou a decoração de Natal? — Davi gritou do banheiro, enquanto passava perfume antes de sair trabalhar — É no dia 06 que tem que tirar, né? Será que os duendes do Papai Noel nos multam se a gente tirar depois?

Silêncio. Saiu pela casa esfregando os pulsos perfumados atrás das orelhas. Encontrou Mateus em frente ao pinheirinho da sala, agora vazio, segurando algo junto ao peito.

— Mateus… tá tudo bem?

O namorado se virou, com os olhos cheios de lágrimas, segurando um Papai Noel.

— Vida… a gente pode deixar um Papai Noel pra trás?

Davi se segurou para não rir da expressão emocionada do namorado. Seria bombardeado por mensagens irônicas direto do home office o dia inteiro caso não fosse sensível às observações dele.

— Claro, meu amor, claro. A gente coloca ele aqui na estante — tentou pegar o boneco das mãos de Mateus mas não conseguiu — Mas me explica… por que?

O namorado limpou o rosto e fungou alto.

— Ai, não sei… é que todo ano, desde o primeiro gorrinho de Natal que eu enxergo, lá no final de outubro, parece que a vida melhora, sabe? Eu sei que logo depois o fim do ano vem se atropelando, tem contas, férias, 13ª e tudo mais, mas toda vez que eu passava pela nossa sala e via o nosso Papai Noel eu pensava: poxa, estamos aqui, mais um ano! A vida tá ruim? No próximo Natal a gente melhora! A vida tá boa? No próximo Natal deixamos melhor ainda! Eu queria lembrar disso o ano inteiro — ele olhou para o bom velhinho em suas mãos — E acho que se a gente deixar um Papai Noel pra trás eu vou conseguir.

Davi esperou pra ter certeza que o namorado encerrou o monólogo e o abraçou forte, junto com o Papai Noel.

— Meu pisciano emocionado — Beijou a sua boca e a ponta do nariz, como de costume — Eu acho que a gente consegue um cantinho pra ele aqui na estante entre a suculenta e a Feiticeira Escarlate, pode ser?

Davi afastou a planta e Mateus colocou as duas divindades que usavam vermelho lado a lado.

— Sabe que em todo Natal eu sempre olho pro lado uma hora e lembro de alguém que não está mais com a gente — Davi disse — Agora sempre que eu entrar na sala vou passar pelo Papai Noel e lembrar que tem alguém comigo o ano todo. Obrigado.

— De nada, vida.

Os dois ficaram abraçados em silêncio.

— Você tá pronto pra explicar pra sua mãe que a Feiticeira Escarlate não é a Mamãe Noel?

— Tô pensando nisso agora.



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